CEIS RIBA SEIS E NÓIS RIBA (((( 9 ))))
Quando um time faz três gols ou mais de diferença sobre o rival, pode-se dizer que a vitória foi incontestável e que a superioridade naquele jogo foi clara. Em vinte e sete oportunidades o Atlético ganhou do Cruzeiro por três ou mais gols de diferença, o contrário ocorreu quatorze vezes. Porém, quando o time faz seis gols no adversário chamamos de massacre, por três oportunidades o Galo massacrou a raposa, coisa o Cruzeiro nunca fez com o Galo. Porém, quando se faz nove gols no outro time, bem, não existem adjetivos que definam um placar de 9x2.
A partir da derrota na final do Campeonato Mineiro de 1915 para o Atlético, o América, o time dos ricos, investiu em um modelo mais parecido com o dos times do Rio, importando jogadores e fazendo uma preparação mais competitiva. O Atlético, que na época era mais organizado, não tinha o poder econômico necessário para isto e amargou um jejum de dez anos sem títulos, período em que ganhou 68 jogos, empatou 44 e perdeu 22.
Mas, a glória do América foi seu fim, pois enquanto o time do América permaneceu elitista e os times de Yale / Palestra restritos aos Italianos, o Atlético se mesclou e perdeu o caráter de time de amigos de classe média, tornando-se o time do povo. Na modesta sede social que funcionava na Rua dos Guajajaras número 317, o Atlético aceitava sócios de todas as condições sociais e cores de pele. Nos anos em que o América foi o vencedor, o time da Massa foi sendo moldado com pessoas de origem humilde. A torcida, que se identificou com o time do povo, se tornou mais apaixonada que as demais e apoiava o time como nenhuma outra.
O Atlético foi campeão da Taça Cidade de Belo Horizonte (precursora do Campeonato Mineiro) em 1926, e não deixou nenhuma dúvida de sua superioridade no campeonato daquele ano vencendo a equipe do América por três vezes seguidas, por 6x3, por 4x3 e novamente por 4x3. Foi a primeira conquista do ataque mais fenomenal da história do time, o chamado “trio maldito” formado por Said (142 gols), Jairo (122 gols) e Mário de Castro (195 gols).
Em 1927, o bicampeonato foi ainda mais fácil, quando o Atlético venceu dez, empatou uma e perdeu uma das doze partidas disputadas. O ataque esteve ainda mais arrasador marcando 58 gols, destes, Mário de Castro fez 27, com a incrível média de 2,25 gols por jogo. Neste ano, a vitória de 9x2 sobre o Palestra Itália (atual Cruzeiro), no dia 26 de novembro, foi a que mais marcou a competição. O Palestra, que também estava em franca ascensão, havia perdido o primeiro jogo contra o Atlético por 4x2 e precisava vencer para continuar sonhando com o título.
Dos quarenta mil habitantes que Belo Horizonte tinha em 1927, 10% da população, cerca de quatro mil pessoas, compareceram ao estádio da Alameda (campo do América) e assistiram ao maior massacre da história deste confronto. O time do povo fez uma exibição que ficou marcada para toda a história deste, que viria a se tornar o maior clássico do futebol mineiro.
O time do Palestra começou o jogo partindo para o ataque e querendo logo o seu gol, porém, se os palestrinos soubessem o que os aguardava, nem teriam entrado em campo naquele dia. O primeiro tempo começou com dois gols de Said, aos 11 e aos 19 minutos, Ninão diminuiu logo em seguida e deu novamente esperança ao Palestra que partiu novamente para o ataque. Sem perder o controle do jogo o Atlético se manteve superior, apesar do primeiro tempo ter terminado com o magro placar de 2x1.
No segundo tempo, o Atlético não tomou conhecimento que do outro lado estava um adversário tradicional. Saíd fez o terceiro gol logo no primeiro minuto, Mário de Castro fez dois gols, aos 12 e 17 minutos e Jairo fez seu primeiro gol aos 21 minutos. Ninão diminuiu novamente, mas enquanto a minoria de torcedores do Palestra ainda comemorava, Jairo marcou mais um gol. Aos 31 minutos Jairo fez seu terceiro gol e Getúlio, aos 37 minutos, deu números finais a goleada de 9x2. A torcida do Atlético já tinha parado de comemorar a muito tempo, pois não tinham mais forças para isto, na verdade os torcedores do Atlético apenas riam copiosamente.
Depois de decretado o massacre e assegurado o título daquele ano, o Atlético ainda recebeu da diretoria do Palestra uma correspondência parabenizando o time pela vitória e admitindo a enorme superioridade da equipe no jogo que teve Oswaldo, Chiquinho, Brant; Hugo Jacques, Ivo Melo, Franco, Getulinho, Getúlio. Jairo, Said e Mário de Castro.
Dois anos depois, em 1929, o Atlético disputou o primeiro jogo internacional de um time mineiro, vencendo o então Campeão Português Victória de Setúbal por 3x1. No mesmo ano, na inauguração do Estádio de Lourdes, o Atlético venceu o Corinthians (base da seleção brasileira de 1930) por 4x2, num jogo memorável em que Mário de Castro fez três gols e teve uma atuação tão brilhante que lhe rendeu uma convocação para a primeira Copa do Mundo, em 1930, onde seria o reserva de Carvalho Leite, a grande estrela do Botafogo. Só que Mário, o único jogador convocado fora do eixo Rio-São Paulo, recusou, alegando que só vestia a camisa do Atlético.
Em agosto de 1930, após a Copa do Mundo do Uruguai, o Botafogo de Carvalho Leite veio a Belo Horizonte e perdeu para o Atlético por 3x2, com três gols de Mário de Castro e nenhum de Carvalho Leite. A revanche deste jogo se deu em outubro do mesmo ano no estádio do Botafogo, que venceu por 6x3, com três gols de Carvalho Leite e dois de Mário de Castro. Saldo de gols dos confrontos: 5x3 para Mário de Castro, que saiu de campo como o vencedor do duelo e considerado o melhor atacante do Brasil. Para Mário, porém, o que contou foi que o Atlético perdeu aquele jogo.
No ano do bicampeonato de 1932, em uma das rinhas de galo, paixão tão grande quanto o futebol naquela época, surgiu um galo mestiço imbatível, que era meio índio e meio carijó e tinha a plumagem nas cores preta e branca. Após um combate em que este galo destruiu o adversário, um dos expectadores comentou que “o galo não aceita desaforo de ninguém, o Atlético também não”, depois de um segundo comentário que disse que “Os dois são valentes e vencedores” uma terceira pessoa concluiu que “este Galo é igual ao time do Atlético”. Esta história foi passada adiante e a partir daquele dia o time ganhou o nome de Galo Carijó.
Quando, em 1945, o chargista Mangabeira escolheu o Galo como mascote do Atlético porque “o Atlético sempre foi um time de raça, mais parece um galo de briga, que nunca se entrega e luta até o fim”, na verdade ele apenas oficializou o mascote que a torcida já tinha escolhido treze anos antes.